Alamy chega ao local com toda sua maestria e logo começa um diálogo com o garçom que está na porta. Henrique se aproxima para ouvir o teor da conversa. Alamy pergunta sobre os filhos e esposa desse garçom. Ele conhece bem essa pessoa de outros locais que frequentava e havia lhe ajudado em tempos difíceis. Henrique observa a conversa silenciosamente e percebe que a simplicidade e humildade de seu sócio foi preponderante para terem passado a marca dos 10 anos. O garçom os leva para uma mesa e anota os pedidos (de sempre). Os dois se observam por um tempo, saboreiam o chope gelado e começam o diálogo, curto, mas emocionado.
Pois é, e pensar que tudo começou aqui. Onde estávamos com a cabeça (risos). Alamy, você poderia imaginar que 10 anos atrás você estaria de volta a esse local comemorando nossa jornada? Esse local é realmente simbólico. Foi aqui que iniciamos as conversas, despedimo-nos de um sócio, iniciamos conversas para fundir com outro escritório e, após 10 anos, continuamos juntos, com novos sócios e sem fusão!
Alamy toma mais um gole e enxuga as lágrimas dos olhos.
Realmente, não poderia ter ideia. Foram 10 anos intensos. Olho para trás e penso em uma montanha russa. Entramos no carrinho dianteiro juntos sem saber o que tinha na nossa frente e sobrevivemos todas as subidas e descidas. Continuamos andando na montanha russa, mas agora com um norte bem definido. Muitas pessoas entraram nos carrinhos e algumas saíram. Mas nunca deixamos de lado os nossos ideais e propósito.
Henrique levanta o braço e pede mais um chope e uma porção de bolinho de bacalhau.
10 anos. Durante esse período ganhamos entes queridos e perdemos outros. E sempre juntos! Já te contei várias vezes a história da conversa que tive com meu pai no avião rumo a Sheffield para cursar direito. Ele olhou atentamente para mim e disse: “Filho, seja dono de seu próprio nariz”. Ele plantou essa semente em 1995 e em 2010 percebi que era a hora. Tive a felicidade de encontrar você e outras pessoas marcantes ao longo desses 10 anos. É cansativo? Demais. É estressante? Além da conta. É gratificante? Com certeza. Mas não poderia ter feito nada disse sem você ao meu lado.
Concordo. Essa cumplicidade e parceria que construímos ao longo desses 10 anos foi a pedra fundamental para nosso sucesso. Relações são construídas e precisam ser alimentadas sempre. A nossa se tornou uma amizade! E essa com certeza é um dos grandes sucessos do escritório. Outro fator muito importante foi encontrar as pessoas que temos hoje conosco. Renata, Tatiana e Daniel são sócios e estão sempre ao nosso lado, assim como outras pessoas que também estão caminhando para a sociedade. Fomos abençoados com a chegada desses profissionais ao nosso time.
Sim, construímos algo muito fascinante e nos tornamos bons amigos. Isso ninguém tira! E as pessoas que se juntaram a nós solidificaram nossa fortaleza. Algumas seguiram por caminhos diferentes e outras ficaram conosco. Ganhamos duas novas sócias espetaculares, Renata e Tatiana. Daniel, que acreditou no nosso projeto desde que se juntou ao nosso barco e hoje está conosco nessa mesma toada, também como sócio. Um time sensacional. Traço um paralelo com o dream team de 1992. Depois discutimos quem é quem!! Você tem algum arrependimento? Faria algo de diferente?
Quando iniciamos nossas conversas em 2009, você comentou que não devemos nos arrepender daquilo que fazemos, mas daquilo que não fazemos. Não tenho nenhum arrependimento. Se faria algo de diferente? Olhando para trás fica fácil identificar algo que poderíamos ter feito de forma diferente, mas aí não teríamos adquirido a mesma experiência ao longo desses 10 anos. Não mudaria nada…talvez a viagem para Ibiza!
Boa… em janeiro tínhamos planos “ambiciosos” para levar a turma para Ibiza em comemoração aos 10 anos…onde estávamos com a cabeça!! Ainda bem que temos mais sócios! (risos).
A pandemia (e os outros sócios) ajudaram a colocar um pouco de juízo na nossa cabeça (mais risos).
Alamy chama o garçom e pede um dry martini para os dois e uma porção de bruscheta.
Desde 2010 passamos por várias crises externas e internas e agora superamos – aliás, estamos superando – mais essa, a Covid-19. Tomamos muitas medidas rápidas ao longo dos últimos meses com foco no escritório. Isso é algo que sempre fizemos. Muitas vezes deixamos de receber distribuições para gratificar as pessoas do escritório ou manter a nossa reserva intacta, sempre pensando no nosso principal valor, o CUIDAR. Durante esses períodos mais difíceis lembro da parábola (acho que chinesa) sobre o fazendeiro que passa por diversas situações positivas e negativas e, ao ser questionado se eram ruins ou boas ele sempre responde, “bom ou ruim, difícil de dizer”. Sempre temos que olhar para todas as dificuldades que enfrentamos e que iremos enfrentar e extrair o lado positivo. Voltando aos 10 anos. O que mais te marcou de forma positiva e de forma negativa?
Parece aquelas perguntas de emprego: descreva 3 qualidades e 3 defeitos… vamos lá…o que me marcou de forma positiva? Na verdade, vou refazer a pergunta para o presente. O que me marca de forma positiva? As pessoas que trabalham conosco e que já trabalharam. Elas acreditam e acreditaram em nós e no nosso projeto. No começo do mês, eu mandei um e-mail para muitas que nos deixaram agradecendo pelos 10 anos. Sem elas, não estaríamos aqui. Foram momentos divertidíssimos com todos. Muitos trabalhos desafiadores. Muitos fechamentos. Muitas estruturas. Falando nisso, os clientes que conquistamos nesses anos todos e que temos e tivemos conosco são outro marco que vejo como muito positivo. Parceiros que, em sua maioria, chegam e ficam. Vários que estão conosco desde o início ou logo depois. Sempre reconhecendo nosso cuidado e confiando em nosso time. É um privilégio tê-los conosco! Mas, também, não poderiam faltar o rafting, 60 minutos, boliche, jantar com chefe da Barilla, os “Auórdis” nas festas de final de ano, atividades no hotel fazenda, clube do livro, chopes na nossa varanda e o Colorado tour. Adicione a tudo isso, o apoio que vem de casa, da minha querida esposa e meus filhos (e, é claro, dos meus pais).
Com certeza. O apoio da minha esposa e dos 3 filhos durante esses 10 anos (e antes enquanto estávamos planejando) foi importante para me dar tranquilidade e seguir adiante. Isso agradeço todos os dias! E tivemos muitos momentos marcantes. Por exemplo, a nossa viagem de ciclismo para Colorado! Foi um evento institucional com um cliente que se tornou um amigo e conselheiro. Ele nos ajudou no começo e até hoje nos ajuda, sendo não só nosso parceiro em trabalhos, mas conselheiro. Esse vínculo que construímos não tem preço (exceto se tiver que pedalar em Wyoming…risos). Outro aspecto do escritório essencial para garantir o nosso valor de cuidar é o ambiente. E todos, sem exceção, ajudam para garantir esse ambiente. Cada pessoa do escritório se preocupa com os demais. Tem um sentimento forte de coletividade. E um ponto negativo?
De não termos feito a nossa viagem anual para Nova Iorque. Além da prospecção e atualização de mercado, as viagens são importantes para fortalecer ainda mais nosso vínculo! Sério, não tem ponto negativo. O que tem são aprendizados de decisões erradas ou até demoradas.
As viagens para NY sempre foram proveitosas! Um ponto negativo que carrego comigo é de se prender a algo que aconteceu quando às vezes não entendemos. Temos que olhar friamente para alguns acontecimentos e simplesmente deixa-los ir embora. Mais fácil falar que fazer! Até coloquei um adesivo na minha parede com os dizeres “Let Go” para me lembrar disso. É um trabalho em que é impossível separar o sentimento da razão e para isso temos outras pessoas no escritório que nos ajudam a superar essas dificuldades. O escritório é o conjunto de todas as pessoas que estão conosco. Uma engrenagem. Estamos sempre juntos e alinhados. Aliás, precisamos agradecer muito também aos nossos clientes. Nossos clientes são parceiros fundamentais dessa trajetória e é por isso que buscamos sempre cuidar bem de todos eles e de cada um de seus casos, sem distinção, pois sem eles não estaríamos aqui. Só tenho a agradecer às pessoas que estão hoje conosco, às que já passaram pelo escritório e a todos os clientes, antigos atuais e futuros. Obrigado.
Henrique levanta a taça de dry martini e brinda com Alamy, agradecendo a todos.
Alamy toma mais um gole do Dry Martini, shaken not stirred, abaixa a cabeça e sussurra… 10 anos. Passa um filme na cabeça do Alamy com inúmeros acontecimentos dos últimos 10 anos – nascimento dos filhos, trabalhando no cliente nos primeiros meses, sede antiga no JK Tower, nova sede na Faria Lima, treinamentos com Nélio e Noronha/Bruno, viagens para Boston (Harvard) e Nova Iorque, crises econômicas, entrada de novos sócios, pessoas crescendo na casa, novas pessoas que chegaram, conversas de fusão com outros escritórios, festas de final de ano, rafting e perda do seu querido e amado pai. Ele levanta, vai em direção ao Henrique e lhe abraça com força e ternura e fala com a voz embargada de choro.
“Estou pronto para mais 10 anos: ao seu lado, com nossos sócios, com nossos clientes, com todas as pessoas que nos apoiam e que apoiamos.”
Henrique, tentando segurar seu choro, mas sem êxito, responde
“Alamy, não posso querer mais nada. Estamos juntos”.
Os dois se sentam à mesa, enxugam as lágrimas e, silenciosamente, terminam o dry martini.